Há uma parcela completamente
invisibilizada na sociedade, condenada à expiação eterna (talvez a mais
dolorosa, a social): os encarcerados. Além de notícias que apontam há anos a
superlotação, rebeliões e crises do sistema prisional do Brasil, existe uma
realidade ainda mais latente, a dos encarcerados que já cumpriram suas
penas e aguardam a boa vontade do aparelho estatal para libertá-los. Ou seja,
erraram, encerraram seus “débitos” com a sociedade, mas ainda permanecem anos a
fio sem saber quando poderão, de fato, gozar novamente da liberdade – vale lembrar,
um dos mais importantes direitos fundamentais. E o pior, a liberdade perdida é irrecuperável!
Pais que perdem o convívio com os filhos e as esposas. Filhos que crescem sem as referências da mãe ou do pai. Avós
que não conhecem ou acompanham o crescimento dos netos. Além desse peso, nota-se, em sociedade, aqueles que preferem não dar importância ao fato, ou desejam o pior que possa
acontecer a esses seres humanos. Ou deixar como está, porque, como ouvi diversas
vezes: “tem é que morrer tudim mesmo”. Com a tranquilidade de quem prega a paz.
A cultura da violência, da proliferação
do ódio, vem ganhando mais e mais seguidores – vide bandidos presos aos postes,
espancados até a morte por “justiceiros”, e a defesa da opinião pública. É atemorizante
saber que pessoas preferem abandonar as regras para fazerem “justiça” com as próprias
mãos. Tentam reimplantar, com argumentos estridentes, numa dita sociedade moderna e num Estado Social, a lei
de talião. O sentimento de vingança vem arrasando não só a esperança por recuperação,
mas fomentando o círculo vicioso do caos social.
E o interessante é que boa parte da população reconhece a
educação como um dos caminhos para a recuperação; os esforços que fazem países
como a Holanda, a Noruega e a Sueca, exponentes na condução de questões
prisionais, para a reabilitação e, consequentemente, a redução da criminalidade, mas
julgam que “isso não daria certo no Brasil”, como se os seres humanos
brasileiros não merecessem o mesmo tratamento. Preferem mesmo jogar na vala
mais funda do esquecimento, o sistema prisional brasileiro, o fulano que furtou
um leite para alimentar seu filho; o ciclano que caiu nas ruas porque perdeu o
emprego, se viciou em crack por desespero e agora rouba, escravo da dependência química. Uma
infinidade de gente que tomba nas malhas do sistema por razões insignificantes,
tantos outros que devem pagar por seus erros, mas com dignidade. Não há, definitivamente, dignidade assim!
A ânsia por sangue deturpa a mente.
Cega! Porque os condenadores de plantão não sabem discernir o que é cumprir a
pena, segundo as normas vigentes, com dignidade, e a morte em vida, propriamente dita, no estado atual. Tanto faz se vão se recuperar ou não. Humanos
direitos – autocondecorados – desejam, cada vez mais, tratamentos inumanos a
humanos marginais, que, assim, mais à margem estarão. E no fim, fingem não entender,
todos são humanos. Sem demora, pregam essa projeto de "paz", falido, perverso.
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