
Absolutamente, não por acaso,
nossas referências primeiras e mais importantes, nossos pais que nos amam, deixam
rastros sem que saibamos ou sintamos. Com o tempo isso vem à tona. Lembro que, por
mais que tivéssemos condições razoáveis, nunca em minha casa se esbanjou bens
materiais. Meu pai, de origem muito simples, com 13 irmãos, não teve luxo;
aprendeu a dividir cedo. Minha mãe da mesma forma, apesar de haver tido uma
vida mais confortável, recebeu na verdade, muito mais do que dinheiro, amor, ainda que com uma educação rígida. Sempre foi doce.
Dividir. Saber administrar o que se
tem é mais que consciência cívica e sabedoria, é amor. Ter a percepção que há
um irmão que carece de algo, por quaisquer razões, sem julgamento, e dividir, não
dar o que sobra, é compreender, como li num texto atribuído ao papa Francisco, que
a natureza não fica com nada, distribui, como é o caso da luz, das águas, do
ar.
Hoje, com 35 anos, aprendi que o
que mais vale, o que preenche o coração, é o amor. Tem mais importância que
qualquer bem material. Sair dessa cadeia de consumo voraz é um desafio, mas possível.
Presenciei o desespero de alguns em ter, sempre, o carro do ano; a roupa de
marca tal; ou frequentar os lugares mais badalados, para, por fim, serem “reconhecidos”
socialmente. Depender desse reconhecimento social ConsumiDor, que consome pela
dor, leva a um ciclo vicioso, de vinculação emocional mesmo, creio eu. A
perturbação à paz interior, por achar que será julgado por não “ter”, pode
levar à perda do amor próprio e uma série de implicações desastrosas, como a
depressão e, sobretudo, a ansiedade.
Não estou criticando quem gosta ou
quem precisa consumir. Faz parte da nossa sociedade. O alerta e o cuidado são
justamente em razão da compulsão. Quantas pessoas que você conhece estão
atoladas em dívidas por perderem o controle do seu cartão de crédito? Quantas
pessoas estão com o nome “sujo” nas instituições de proteção ao crédito? Há estudos
comprometidos no sentido de entender e prevenir os casos de superendividamento
no Brasil e no mundo. Ou seja, é preciso proteger o consumidor, às vezes desorientados
ou descontrolados, em face de perseguições midiáticas irresponsáveis.
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