No fatídico dia do
impedimento à brasileira, a derrocada tomou o poder. Horas de uivos, relinchos;
louvores a uma tal "família tradicional brasileira" fariam tremer,
boquiabertos, Darcy Ribeiro, Dom Helder Câmara, e outros defensores inexoráveis
da democracia da nossa história, ainda tão nua, crua... Mas foi assim. Nunca se
cogitou sequer uma humilhação dessa proporção. Uma sessão de horror
avassaladora, em pleno domingo, consumou o anunciado e pouco repelido golpe
branco (mais ainda, homem, "hétero", maior e rico). E a locomotiva
ensandecida gritava: "Primeiro um, depois o outro..."; "Minha
bandeira nunca será vermelha". A massa útil queria e aspirava, extasiada,
o gás alucinógeno da vingança. Estratégia maquinada pelo senhor das trevas
("meu ladrão/malvado favorito"), sob os auspícios do conspirador
(vampiro), teria de levar a cabo o "grande acordo nacional". Maria
acompanhava eufórica, reafirmando no Facebook, por fidelidade familiar (?!), o
desejo da tia Nazi: "Agora o Brasil véi vai mudar!". Depois do
primeiro turno de 2018, no fim da tarde recebeu [a] notícia: "Maria,
Maria, o Arturzim, teu filho, ô meu deus, sei nem como dizer; tamo aqui com ele
no hospital. Bateram foi muito no bichim". Maria nunca imaginou que as
palavras "bobas" do neonazista, "mal interpretadas" ou solenemente
naturalizadas, atingiriam logo x seu filhx, meninx bom, delicadx, sensível e
humanx. Chorou a dor de um ódio qualquer guardado. Agora, moída de remorso, nem
intuía o motivo de ter se instalado no seu coração, tão cristão.
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