Sou nordestino. Não do Norte, como dizem. Talvez, mais uma forma de menosprezar, querer mostrar
que tanto faz. Tenho extremo orgulho da minha raiz cearense. Carrego no sangue
(memória genética) a miséria dos meus antepassados, o enfrentamento à seca de
1915 - "O Quinze", de Rachel de Queiroz, reporta bem o doce e o fel
(mais fel) de vidas esquecidas, de uma pobreza que não combinava com requinte
da Belle Époque sonhada pela elite fortalezanse. Todos
os dias (todos os dias mesmo!) vejo, estarrecido, no facebook e em outros meios, irmãos e irmãs pobres - seres humanos da mais alta
consideração à dignidade -, muitxs vindxs do Nordeste em busca de oportunidade,
serem esculachadxs por opressores Brasil afora. Qual a razão?! Estar pobre, em
situação de rua. Julgam que não têm voz, daí pintam e bordam. Esculachar
engloba jogar água; propor ração - vejam a maldita pecha, lembro, instintivamente,
dos campos de concentração que existiram no Ceará -; tirar o pouco (tudo) que possuem,
e tantos e repetidos outros absurdos, à luz do dia, para quem quiser ver. Mas
dá um certo alento saber que pessoas como o Pe. Júlio Lancellotti, admirado
defensor dos direitos das minorias, se preocupam em trazer à lume esses abusos;
efetivamente cuidar e tornar público essas sanhas destruidoras nunca antes
sentidas nesse país. Que tempos! Acho que Darcy Ribeiro não previu o pior, nem
o mais louco pessimista foi capaz de ousar supor uma perseguição tão feroz aos
desvalidos do nosso país.
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