- É assim, quando menos se espera, você
tira o corpo fora?
- Eu nada. Se liga!
- Você tem obrigação, ô cara! Deixou
aquele pobre coitado ir.
- E você também não tem não, santinha?
- Claro que sim. Mas era seu dia, ô
crápula!
- Megera, todo dia é dia. Eu tava
trabalhando.
- Em casa. Não tem como cuidar não?
- Eu me isolo. Trabalhar em casa não
significa ser doméstico não.
- Ô se faz de mal-entendido, se liga! É
mais fácil você ver ou eu que tô do outro lado da cidade, trabalhando.
- Como cê trabalha? Eu trabalho
concentrado.
- Não importa, não muda o foco. Quero
saber se você não se preocupa. É teu filho, pô!
- Claro que sim! Mas o que eu posso fazer
se ele quis ir. Devia tá de saco cheio dessa porra aqui.
- Eu que o diga.
Uma pequena pausa. Respiraram fundo,
quando tudo parecia que ia melhor:
- Não vem não, ainda tô puto aqui com o
que fizeram com o Lula.
- Sem noção. Vai pra Cuba e leva o Lula,
então!
[...]
Saíram, cada um para um lado. Ele botou a
boina, estilo militar, um chinelão, acendeu o cigarro no meio da sala – coisa
que ela odiava, de propósito - e vazou. Ela largou tudo em cima da cama, puta
da vida; deu uma jogada no cabelo, botou as tamancas, salto quinze, e sumiu
pelos fundos. Quem ficou em casa só, mais uma vez, foi o João, ronronando, no
novo esconderijo: um buraco no sofá. Não ia abrir mão da diversão. Ainda mais
agora, convencido que qualquer coisa seria pretexto para uma nova briga
começar. “Esses humanos!”.
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